sábado, 30 de abril de 2011

QUERO BEIJAR TUAS MÃOS

Mãe, quero beijar as tuas mãos enrugadas,
E agradecer todos os teus trabalhos.
Nas suas veias correm as horas passadas
Em sacrifício de caminhos e atalhos
Da vida, com renúncias e canseiras,
Nos instantes de cada dia e momento.
Nunca viraste a cara ao sofrimento
Nem renunciaste às dores e lutas traiçoeiras.

Quero beijar essas mãos que me afagavam
Enquanto no teu ventre me escondias.
Então aí, as tuas religiosas esperanças acalentavam
Um sonho de dor e amor e, com doces melodias,
O fruto do teu ventre, em humildade, cantavam.

Quero beijar tuas mãos que me acolheram,
Ao entrar neste mundo, com um gemido,
E, na ânsia materna, me ergueram
Até aos teus lábios que meu débil corpo beijaram,
Na alegria de mãe, por ter vencido
A incerteza de um tempo atrás
Quando duas vidas se encontraram,
Crescendo, depois, na perfeita comunhão da paz.

Quero beijar tuas mãos, nunca cansadas,
Que sempre me aconchegaram ao teu peito
Para eu saborear o teu delicioso leite.
Mesmo não tendo tuas noites sossegadas,
Tu sempre te reclinaste sobre o meu leito,
Vendo, nos meus olhos, a gratidão de ter sido aceite.

Quero beijar tuas mãos que, nos meus primeiros passos,
Foram para mim a força da grande certeza
Do encontro da alegria com a beleza
Da mãe que me apertava nos seus braços.

Quero beijar tuas mãos que, erguidas com emoção,
Ajudaram a levantar as minhas para a primeira oração.

Quero beijar tuas mãos que, em diária labuta,
Amassaram a broa, o pão dos pobres,
Fruto das canseiras, muito sangue e luta,
Entrega, insónias e sentimentos nobres.

Quero beijar tuas mãos que carregaram minha sacola
Quando, em pequenino, eu corria para a escola.


Quero beijar tuas mãos que, por amor me castigaram,
Ensinando o caminho da virtude e honestidade,
As mesmas que a enxada e a foice manusearam,
Cavando e semeando em mim os sentimentos da verdade.

Quero beijar tuas mãos, hoje, magras mas seguras,
Sempre atentas ao meu peregrinar na vida,
Mesmo estando com o Deus das alturas
Serás eternamente a mãe querida.
Como, quando criança, me ensinaste a rezar,
Contigo, agora, em acção de graças, rezo também
Ao Senhor que tudo fez por bondade e bem,
Até a minha vida que tinha de começar
No grande carinho e sacrifício de minha mãe.

Num misto de profunda saudade e alegria,
Quero ter-te sempre na minha memória;
Lembrar-te-ei à Virgem Maria
Mãe do Seu doce e amoroso Jesus;
E a Deus-Pai, Senhor do Céu e da glória,
Rogo que Ele te abrace na Sua luz.

Pe. Manuel Armando
(1 de Maio de 2011)

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