quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

TRADIÇÃO JAVISTA DO RELATO DA CRIAÇÃO




É a narração histórica mais antiga (século X-IX a.C.) em que vêm narrados os factos fundamentais do povo judeu, desde a criação do homem (Gn 2,4b+) até ao momento em que os judeus chegam a Moab vindos do Egipto (Num 25).
É uma história em que Deus aparece bondoso, misturado com o homem (antropomorfismo) e se apresenta sempre disposto a salvar o homem decaído.
É uma história colorida, estilisticamente bela, cujo autor pretende pôr em relevo os progressos contínuos da tribo de Judá. “Não trata rigorosamente da criação, nem chega a descrever a origem do mundo” (J. L. MACKENZIE). Além de não descrever como se deu a origem do mundo também não dá uma explicação tão pormenorizada sobre a criação como acontece no texto sacerdotal. Esta tradição está ligada à época da realeza de Judá. Tenta responder aos problemas fundamentais da existência humana: sofrimento, morte, mal, pecado, criação, etc.
“O estilo é mais vivo e concreto; a apresentação de Deus é mais antropomórfica; a perspectiva é terrena e humana mais que cósmica e divina” (E. A. MALY).
É característico da fonte javista ser antropomórfica, imaginativa, folclórica, colorida, ingénua, plástica e descritiva nos detalhes mínimos (M. G. CORDERO).
O relato da criação na tradição javista consta de “uma narrativa da criação do homem, distinta da criação do mundo e que só se completa com a criação da mulher e o aparecimento do primeiro casal humano” (Bíblia de Jerusalém).
Aquilo que o autor sacerdotal descreve em dez majestosos versículos, é descrito pelo autor javista num pequeno versículo. O interesse do autor centra-se na terra já criada.
“No tempo em que Iahweh Deus fez a terra e o céu” (Gn 2,4b). “Do ponto de vista estilístico, as palavras iniciais podem comparar-se com a primeira linha do Enuma Elish” (E. A. MALY).
A tradição ou fonte donde este relato foi retirado é chamada javista por utilizar o nome de Javé ou Iahweh no composto divino “Iahweh-Elohím”, que geralmente é traduzido por “Senhor-Deus”. “A fusão de Yahvé Elohím deve atribuir-se ao redactor final” (E. A. MALY). O significado de Elohím é Deus, traduzido pelos Setenta, que é o nome comum para designar a divindade. Iahweh é um específico dos hebreus que apareceu a partir da revelação feita a Moisés no Sinai. O nome Iahweh só foi revelado no monte Sinai, a Moisés. Portanto ainda não poderia ser utilizado neste tempo. Aqui deparamos com o uso anacrónico do nome de Iahweh.
“O duplo nome divino põe aos especialistas um problema que está ainda por resolver. Terá tido o historiador diante dos olhos duas tradições, uma das quais usava desde o princípio o nome de ‘Yavé’ (...), enquanto que a outra teria es¬perado para o fazer, a inauguração do culto de ‘Yavé’ por parte de Enós, filho de Set (...)? Isto leva a pensar em duas fontes reunidas com muita habilidade pelo historiador ‘javista’” (GRELOT). O hagiógrafo põe ambos os nomes justapostos para mostrar que Iahweh é o mesmo que Elohím, do relato da criação.

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